segunda-feira, 8 de fevereiro de 2016
Efêmero
(Google Images)
Após o efêmero vem o gosto cinza da realidade, o despertar amargo, a lentidão dos músculos e o olhar opaco.
Após o efêmero, o dia fica da cor da Alma, agora incolor, e os ruídos da alegria postiça, do ontem, ecoam como uma tristeza oculta sem pressa de aterrissar e levantar voo.
Após o efêmero as flores parecem murchas. O tempo parece ter parado com o dia e dança uma valsa anêmica no pôr do sol da hora da saudade. Os pássaros acompanham a dança piando seu choro lânguido.
Após o efêmero, o amor não parece reluzir e nem os estímulos estimulam. Catam-se detalhes e se balbuciam palavras soltas e preguiçosas, como se nada mais pudesse jorrar da Alma. É como se o reservatório da alegria tivesse esgotado e toda reserva fosse para o túnel da tristeza.
Após o efêmero, a primavera parece sem flor e sem cor. A dor dói sem arte. Ela faz ressonância no lado esquerdo do peito e nem se sabe se é dor ou se uma pausa da euforia.
Após o efêmero, não há encontro. Os sentimentos desfilam mas não se identificam. Não se sabe qual a cor, a idade, a procedência e a vida útil. Só se sabe que esses sentimentos não são precursores da alegria.
Após o efêmero, vive-se apenas o morrer da fantasia que se usou nos carnavais da vida.
Maria Helena Mota Santos
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Olá, Helena!
ResponderExcluirQuanta filosofia transpira
este teu poema.
Efêmero, prazo de validade
até passar-mos para o outro lado
do caminho...
Carnaval ou carne nada vale
um pouco de pó, cinza
é tudo quanto sobra
no fim da caminhada
pois, no outro, no mais sublime
sobra-nos a bondade
dos nossos actos
vestido de cumplicidade
convertida em generosidade.
O advento e a quaresma
são momentos de reflexão
amadurecidos no nosso coração.
Um abraço e BFS
Amigo Adriano, só tenho a agradecer a sua delicadeza em forma de comentário!Suas interações sempre me raptam e me ensinam algo. Obrigada pelo carinho de sempre!Um ótimo final de semana para você e toda a sua linda família! Abração!
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