quarta-feira, 29 de abril de 2020
Linha do tempo
Não teço
cada dia
com linhas quebradas
pelo tempo
Em cada amanhecer
pego outra linha
e bordo
novo momento
Às vezes
de cores pálidas
Às vezes
de cores firmes
Eu valorizo
cada cor
A cor alegre
e a cor triste
Às vezes
teço pelo avesso
com as mãos trêmulas
de frio
Às vezes
tenho pouca linha
mas encaro
o desafio
Às vezes
penso que teço
um caminho
que escolhi
Mas percebo
que havia esboço
do bordado
que teci
Às vezes
fico perplexa
meus bordados
não reconheço
Mas não deixo
um só dia
Sem tentar
um recomeço
Teço
desde que acordo
e só paro
quando adormeço
Mas em sonho
sou intuída
e para o novo dia
eu amanheço
Maria Helena Mota Santos
09 09 2014
sábado, 25 de abril de 2020
Dualidade
Uma criança grita, dentro de mim, noite e dia
e se assusta com fantasmas que a escuridão deixou.
Eu a pego no colo e a embalo com carinho
ela faz beicinho e se enrosca toda em mim.
Digito a senha do cofre que reservei luz
ela aponta sombras que a luminosidade fez surgir.
Digo pra ela que nada na vida é permanente
que até o sol todo dia é poente.
Digo que nada é tão real que não possa virar sonho
e que a vida é um quebra-cabeça infinito.
Ela me escuta com um ar reflexivo
e eu a embalo com a canção do novo dia.
Ela se acalma no meu olhar para o infinito
e se espreguiça com o ser mais relaxado.
E num abraço aconchegante e carinhoso
o sono chega e ela dorme nos meus braços.
Maria Helena Mota Santos
07 11 2012
quarta-feira, 22 de abril de 2020
Caminhada
Trocando passos
ouvi o som
de cada tom
que me envolvia
Ando apurando
e aguçando
o meu olhar
na travessia
Ouvi canção
bem pra lá
do infinito
coração
Ouvi o verso
que dava colo
à companheira
solidão
Ouvi os passos
sem ter rumo
nem tão rápidos
nem tão lentos
Vi as plantinhas
brincando de roda
de mãos dadas
contra o vento
Ouvi o nada
em disparada
e do tudo
me desfiz
Andei
só andei
sem perguntar
se sou feliz
Maria Helena Mota Santos
15/10/2011
terça-feira, 21 de abril de 2020
Impermanência
E de repente era tudo novo.
Olhei em volta e tudo estava realçado com a cor do sol que esquentava o inverno.
Uma sensação de euforia enfeitava a alegria e me fazia plena de vida e de sonhos.
Cada passo era uma nota musical que alegrava o caminho e me fazia toda melodia.
E um sol se foi... E outro amanheceu... E outro sol se foi ...
E no outro dia tudo amanheceu igual e o que era diferente virou normal.
Eu olhava e não mais via o sonho que estava agora pespontado pelo tempo.
E uma sensação de impermanência me acometia de eclipse.
E não era mais o sol que amanhecia em mim, mesmo quando o sol aparecia.
E eu me esforçava para ver o que estava encoberto pela hábito da repetição.
A verdade estava estampada em cada linha das entrelinhas do silêncio: um ciclo tinha chegado ao fim.
Gastei as palavras pra depois silenciar.
Mas eu já sabia que seria inevitável andar...
Maria Helena Mota Santos
02 02 2013
sábado, 18 de abril de 2020
A queda do dia
Sonhei que o dia estava caindo numa velocidade inalcançável.
Tentei convencê-lo do quanto ele poderia ser encantado pelo sol.
Orientei-o a tomar banho de mar para lavar os resquícios da noite escura.
Mostrei a beleza dos campos e dos pássaros que voavam com direção.
Dei-lhe a mão para que ele pudesse aterrissar e ofereci uma bebida quente.
O dia sentou ao meu lado,cabisbaixo, e reclamou da escuridão da noite passada.
Disse-me que a lua adoeceu,acometida por um eclipse, e tirou folga, impedindo-o de armazenar luz.
Então emprestei os meus olhos para que ele pudesse enxergar a luz própria.
Falei da beleza da sua companhia e que já não me sentia só.
O dia me olhou cheio de promessa e resolveu cumprir sua missão.
Ergueu-se! Buscou o sol armazenado dentro de si e abriu um belo sorriso.
E soltou da minha mão para entrar no seu turno até ser rendido pela noite.
E foi sorrindo numa claridade impressionante e inimaginável.
E depois virou noite para no outro dia amanhecer.
Maria Helena Mota Santos
24 03 2013
terça-feira, 14 de abril de 2020
Intangível
Não sei
Pensava saber
Nada sei
Minhas certezas
São incertas
De portas abertas
Minhas verdades
São vulneráveis
Insaciáveis
Mutáveis
Olho para o alto
Do lado de baixo
Vejo estrelas
Inatingíveis
Majestosas
Soberanas
Olho para o lado
Do lado inverso
Vejo gente
Formando versos
Tragando a vida
Nos seus reversos
Olho para dentro
Do lado externo
Vejo a mim
Com a alma alada
Vestida de sonho
Num caminho
Intangível
Sem fim
Maria Helena Mota Santos
20/03/2011
sábado, 11 de abril de 2020
Corrida da vida
Respire fundo!
Pode começar a hora que você quiser!
A partida começa na rua da saudade.
E a chegada é lá na rua da esperança.
No percurso, hidrate-se com lembranças.
E não esqueça do bloqueador da tristeza.
Use as roupas leves da alegria.
E proteja os pés contra a monotonia.
E para dar mais energia durante o percurso,
Não esqueça da pitadinha de sonho.
Corra! Mas não perca o compasso.
Pise! Mas deixe bons rastros.
Beba o líquido da moderação.
E embale tudo com uma canção.
Promova abalos sísmicos nas camadas internas.
E após a acomodação das falhas causadas pela erosão da dor,
Entre nos escombros e traga o troféu de si mesmo.
Após o resgate, siga a seta, vire a outra esquina
E aguarde instruções para a próxima corrida da vida.
Maria Helena Mota Santos
16 03 2010
sexta-feira, 10 de abril de 2020
Oração do amanhecer
Senhor
Neste dia que amanhece
Entrego o controle da minha vida
A chave das minhas decisões
A lamparina que clareia a escuridão
A caneta que escreve minha história
As sandálias que alicerçam os meus passos
As emoções que acionam meus sentimentos
Senhor
Que eu possa andar pelos caminhos do perdão
Que nenhum sentimento me insinue escuridão
Que eu transite no portal da compreensão
E que eu seja um ombro amigo e irmão
Senhor
Que o passado me traga sabedoria
Que eu viva o presente deste dia
Que cada palavra seja uma nota de alegria
Pra transformar meu futuro em sinfonia
Senhor
Que meu ouvido seja surdo para a maldade
Que minha mão seja instrumento da caridade
Que eu não seja cego pra perceber a dor
Que eu olhe a vida com as lentes do amor
Amém
Maria Helena Mota Santos
quarta-feira, 8 de abril de 2020
Novo tempo
O novo tempo
cansou de esperar
e envelheceu
Enquanto esperava
colheu sabedoria
e renasceu
O sábio tempo
não mais esperava
o tempo mudar
Não tinha mais tempo
para esperar
a vida passar
Apenas andava
Apenas sabia
plantar todo dia
Plantava esperança
Plantava amor
Plantava alegria
Maria Helena Mota Santos
domingo, 5 de abril de 2020
Inusitado
Não era por ali
Mas fui
Se era pra ficar
Segui
Aviso de perigo
Não li
Nasci com asas
Parti
Maria Helena Mota Santos
quinta-feira, 2 de abril de 2020
Medos
Meus medos
já não são medos
São coragens
disfarçadas
São sinais
de uma mudança
No percurso
da estrada
Meus medos
já não são medos
São disfarces
de um novo tempo
São desafios
na vida impostos
Pra pintar
novos momentos
Meus medos
já não são medos
São asas
de proteção
São versos
do meu reverso
Que faz pulsar
o coração
Maria Helena Mota Santos
11/12/2011
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