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quarta-feira, 30 de outubro de 2019

O voo do papel


No chão, em frente a um prédio, uma pichação: TE AMO.
Num salão de festa, no mesmo prédio, as cadeiras esperam, "pacientes", pelos convidados.
No céu nuvens bordadas insinuam esboços humanos se amando.
Dois pássaros passam brincando de esconde-esconde como meninos arteiros.
Um adolescente passa cabisbaixo, provavelmente, pensando o que fazer sábado à noite.
Uma jovem senhora passa puxando pelo braço seu filho “doentinho”.
Vários carros passam em fila, na avenida, como se tivessem marcado a hora do encontro.
Pessoas passam arrastando as sandálias com a falta de pressa do sábado.
A tarde fica sonolenta e o divagar ,do poeta, é inevitável e sem pressa.
O poeta fica na letargia do tempo, da rua, da avenida e da cidade.
Assume o embalo calmo das pessoas que passam na rua.
Assume o palpitar macio do pulso da rua que ecoa no coração da cidade.
O poeta quer olhar pra rua e não quer olhar na sua própria avenida.
Assume a dinâmica do movimento que não para, embora pareça lento.
Resolve emprestar o seu olhar pra vida cirandar como quiser e quando quiser.
Subitamente, um papel sai do chão e voa e volta e, depois, cai para voar de novo.
O papel desperta um fascínio no poeta que resolve acompanhar sua trajetória.
O papel traz de volta um brilho “travesso” no seu olhar e desperta a criança adormecida.
O poeta resolve sair de si e divagar nos braços da sua alma pueril.
Deixa-se guiar pelas asas do papel que sobe ou desce conforme a direção do vento.
Assume a condição de papel, que o vento leva, e põe sua alma nessa vida itinerante e imprevisível.
Não sabe quando vai parar e o quanto vai aprender, nessas passagens, nos braços do vento.
Vai se deixando levar , sem controle, esquecendo o que acontece na periferia.
Vai sentindo a leveza de ser papel e voar, cair, voar, cair...voar!

Maria Helena Mota Santos


14/03/2010

segunda-feira, 28 de outubro de 2019

A rosa e o botão


Meu jardim era um dos mais lindos
Várias flores cresciam formosas
Veio um vento inesperado e veloz
E feriu a mais linda das rosas

O vento forte levou-a consigo
Perplexa olhei as pétalas no chão
Agachei-me e apanhei uma a uma
Transformei-as em um lindo botão

Para livrá-lo da força do vento
Coloquei um selo de proteção
Guardei-o com cuidado e carinho
Num cantinho do meu coração

Mesmo o botão não sendo a rosa
Contento-me em ter dela a lembrança
O botão que a partir dela surgiu
É o que me faz ter na vida esperança

O meu jardim continua bonito
Mas há silêncio ao entardecer
As outras flores têm saudade da rosa
E não conseguem dela se esquecer

Maria Helena Mota Santos

29 06 2013

domingo, 27 de outubro de 2019

A luz e a escuridão


Perdi o medo do escuro
Quando a escuridão chegou
Acostumei o olhar à luz
Que a escuridão mostrou

Os fantasmas se dissiparam
Pois a luz os ofuscou
Correram para outro palco
Onde alguém os abrigou

Andei em falsas linhas
Que eram curvas sinuosas
Aprendi a não confundir
Os espinhos com as rosas

No escuro pude ver
O que há no meu jardim
Liberei a borboleta
Que era casulo em mim

Maria Helena Mota Santos

22 03 2013

sábado, 26 de outubro de 2019

Vida


A vida é a fantasia
que se veste a cada dia
É o cenário que se enxerga
pelo ângulo da ilusão
É o enredo de uma novela
que põe em pauta o coração
É a verdade relativa
pelo foco de quem vê
É a estação de uma partida
que se tende a esquecer

A vida é o avesso
do lado oposto invisível
É saudade de um tempo
que talvez não se viveu
É a cadência e o descompasso
que sonorizam o tablado
É o rio que vira mar
com as chuvas de verão
É o sopro de um instrumento
que oxigena uma canção

Maria Helena Mota Santos

(2013)

quinta-feira, 24 de outubro de 2019

Verdades


Verdades sobre mim
são inverdades
que cabem no olhar
de quem me vê
nem sempre o sorriso
é alegria
e o silêncio muitas vezes
é prazer

Quando me vejo
sem a película da ilusão
e enfrento minha mutável
condição
Meus pontos cegos
roubam a cena e me ofuscam
Sempre me vejo
com alguma restrição

Mas se a verdade fosse
tão absoluta
e já nascesse conhecendo
o meu eu
Que graça tinha o viver
sem aprendizado
Se o bom da vida
é ser um eu inacabado!

Maria Helena Mota Santos

09/08/2011

terça-feira, 22 de outubro de 2019

Aprendi com a vida


Aprendi tanto
e
tão pouco
diante do que está disposto
nas infinitas possibilidades
dessa vida

Aprendi a olhar
e ver
nas entrelinhas do viver
e
que é no silêncio
que se constroem as armadilhas

Aprendi a sentir
sem falar
o que está a me espreitar
e
que no escuro
posso enxergar melhor a luz

Aprendi a andar
sem caminhar
só pelas vias do pensar
e
que as palavras
têm subterfúgios inimagináveis

Aprendi a amar
sem condição
sem obstruir o coração
e
que amores vêm
e amores vão

Aprendi a abrir as asas
sem direção
voando com o coração
e
que eu sou
um poema em construção


Maria Helena Mota Santos


14/11/2011

sábado, 19 de outubro de 2019

Cores derramadas


Pintei poesia
De tintas derramadas
Derramei o azul
Do estoque do meu céu
E fiz do verde
A cor da minha estrada

Derramei o vermelho
E fiz rosas no caminho
Com a cor bege
Pintei o aconchego
Do meu ninho

Com a tinta preta
Realcei o meu olhar
Que assim aprendeu
Todas as cores
Matizar

E não havia
Cores de solidão
Todas se abraçavam
Pra pintar uma emoção

Enfim vi uma tela
Sem contorno
E sem desfecho
Sempre era possível
Ter outras tintas
E o recomeço

Maria Helena Mota Santos

terça-feira, 15 de outubro de 2019

Incertezas


No terreno fértil
dos porquês
descobri a sabedoria
das perguntas
sem respostas

Em terreno íngreme
e nas pausas
para as esperas
encontrei
o silêncio salvador

Percebi
nas entrelinhas
que as respostas
desencantam o fascínio
do saber

As perguntas
abrem caminhos
e aguçam um tempo
aprendiz
de incertezas

Maria Helena Mota Santos

sexta-feira, 11 de outubro de 2019

Feliz dia das crianças


A criança saiu pela porteira
Fez travessuras na estrada
Fez da tristeza uma estátua
E saiu em grande disparada

Deu voz ao ser inanimado
E contracenou com a fantasia
Com uma varinha de condão
Transformou tudo em magia

Rodopiou leve e solta
Sorriu pra tudo que encontrou
Fez das árvores seu trapézio
E tudo em palco transformou

Cobriu a estrada de algodão doce
Em uma nuvem se sentou
Pintou o dia de arco-íris
Tudo em volta se alegrou

Estourou muitos balões
E a felicidade liberou
Ao encontrar com as pessoas
Cirandou, cirandou, cirandou

Maria Helena Mota Santos

12 10 2012

sexta-feira, 4 de outubro de 2019

Partes de mim


Partes de mim estão livres
E fazem redemoinho
No vento das emoções

Partes de mim são aladas
E se emparelham com o tempo
Nas asas da imaginação

Partes de mim são partidas
Que enfrentam tempestades
Em busca de um novo sol

Partes de mim são como águias
Que voam sempre mais alto
Em busca do infinito

Partes de mim são casulos
Que preparam o momento
De ser borboleta no mundo

Maria Helena Mota Santos