sexta-feira, 31 de maio de 2019
Pássaro ferido
Vi um passarinho morto no chão e fiquei comovida.
Hoje passei pelo mesmo lugar e ele continuava ali: inerte, repisado e solitário.
Trouxe-o no coração e o transformei em poesia!
Ontem
Enquanto andava
Vi um passarinho no chão
Morto para a esperança
Inerte para a ilusão
Hoje
Enquanto andava
Vi o passarinho no chão
Ninguém reclamou sua ausência
Sua parceira é a solidão
Um dia teve asas
E viu o céu de pertinho
Hoje conheceu o chão
E a dor de ser sozinho
Voa meu passarinho
Com as asas do pensamento
Encontre seu paraíso
Muito além do firmamento
E se força não tiver
Para além do chão voar
Na minha casa tem um jardim
Onde você pode descansar
Maria Helena Mota Santos
16/01/2012
quinta-feira, 30 de maio de 2019
Presença
Para esquecer
Nem sempre
É preciso ausência
Esquece-se
Mesmo
Na presença
Pois lembrar
É mais do que ver
É enxergar
No coração
A quem
Não se quer
Esquecer
Maria Helena Mota Santos
30 03 2014
domingo, 26 de maio de 2019
Meu retrato
Abandonei um par de lentes
Que ganhei lá no passado
Com elas eu via o esboço
Do meu retrato borrado
As lentes do meu passado
Tinham manual de instrução
Que prometia com o tempo
Aperfeiçoar minha visão
Usando as duas lentes
Tive meu olhar viciado
Eu seguia só uma reta
Nem olhava para o lado
Um dia lá pela noite
No colo da solidão
Meus olhos indignados
Fizeram revolução
Foram noites mal dormidas
E dias mal acordados
Mas a rebelião aconteceu
E as lentes se ajustaram
Olhei nos olhos do tempo
E com alegria percebi
Um retrato bem pintado
Que a vida fez de mim
Nunca tinha me visto antes
Da forma que vejo agora
Sou um retrato pintado
Com as tintas de cada hora
Hoje busco as minhas tintas
Pra pintar os novos quadros
Vivo nas asas do universo
Criando meus matizados
Maria Helena Mota Santos
03/12/2010
quarta-feira, 22 de maio de 2019
Naquele dia
Olhando para o céu naquele dia
Eu tive a plena certeza
De que a certeza não existe
Na neblina que embaçava o sol
Percebi uma cortina improvável
Embaçando o meu olhar
E ofuscando a minha luz
Olhando para o céu naquele dia
Eu tirei a conclusão
De que é melhor ter saudade
Do que conviver com a ausência
Pois sentir saudade aproxima
Mas a presença da ausência
Faz distante quem está perto
Olhando para o céu naquele dia
Eu percebi claramente
Que em alguns momentos da vida
O silêncio é cheio de palavras
E as palavras são cheias de silêncio
E cada ação implica uma reação
Que cala fundo no coração
Olhando para o céu naquele dia
Eu desenhei o meu destino
Entre as nuvens que passavam
Planejei minhas viagens
Pra esperança dei passagem
Embarquei num pé de vento
E fui conhecer outra paisagem
Maria Helena Mota Santos
20/10/2010
segunda-feira, 20 de maio de 2019
Metamorfose da dor
O que é a dor
Senão um aperitivo
Do amor
Um pré-requisito
Da experiência
Um trilhar no túnel
Da sabedoria?
O que é a dor
Senão um encontro
Com o avesso
Com o lado imperfeito
E com o quadro pintado
Sem cor?
O que é a dor
Senão um linimento
Que provoca ardor
E aponta caminho redentor?
O que é a dor
Senão a bússola do homem
Em busca de um caminho profundo
Precursora dos grandes versos
E mãe de todos os poetas?
O que é a dor
Senão um passaporte
Para o mundo
Que toca bem lá no fundo
Trazendo à tona
O néctar do SER?
O que é a dor
Senão o caminho inverso
Da mediocridade
Que dá cor
A qualquer saudade
Sem escolher idade?
Sem idade
Chega a dor
Trazendo histórias
Cantadas e encantadas
De amor.
Maria Helena Mota Santos
terça-feira, 14 de maio de 2019
A história é assim
A história é assim
Um enredo que não tem fim
E que pode findar a qualquer hora
A história é assim
Uma certeza incerta
E uma saída em cada fresta
A história é assim
Um desbravar de vontade
Sem ter saciedade
A história é assim
Um começo esperando o fim
E um fim sem aviso prévio
A história é assim
Todos na mesma viagem
Diferentes destinos na bagagem
A história é assim
Vários mapas disponíveis
Levando a lugares imprecisos
A história é assim
Revezamento constante
De quem vai e de quem chega
A história é assim
Parceiros de todas idades
Em busca da eternidade
Maria Helena Mota Santos
06/06/2011
domingo, 12 de maio de 2019
Mamãe
HOMENAGEM A TODAS AS MÃES, VISÍVEIS E INVISÍVEIS.
Um dia
Numa terra bem distante
Deus acordou pensativo
Cheio de reticências
Após ter criado o mundo
Os animais
A natureza
O homem e a mulher
Sentia que sua criação
Não estava completa
Precisaria colocar
Um sentimento no mundo
Que fosse antídoto
Para as dores
Para os sofrimentos
Para a solidão
A quem proporcionar
Tal poder
De gerar um sentimento
Tão infinito?
A quem proporcionar
O poder
De gerar nas entranhas
O amor incondicional?
Após pensar por um tempo
Criou um ser
Dentro de um outro ser
A quem chamou de MAMÃE
E para que o dom
Fosse extensivo
A todas as mulheres
Deu a cada uma
Esse poder maternal
De gerar um ser
No próprio ventre
Ou no ventre do mundo
E só assim descansou
Por saber
Que no mundo
Há um Anjo incansável
Que faz plantão
Em cada esquina
Da vida
Seja dia
Seja noite...
Maria Helena Mota Santos
quarta-feira, 8 de maio de 2019
A máscara do eu
Vesti-me de flores
Para atrair a alegria
Andei pelo mundo
E me fiz fantasia
Coloquei uma máscara
Que meu rosto escondeu
Caminhei pela vida
Buscando o meu eu
O eu rebuscado
De tanta inferência
O eu maltratado
Pela obediência
O eu remexido
Pelas dores sentidas
O eu naufragado
Nas lágrimas contidas
Escutei minha voz
E de frente me olhei
Eu era tão simples
E me compliquei
Agora sou várias
Nenhuma delas sou eu
Preciso encontrar
O que em mim se perdeu
Tirei minha máscara
E no espelho me olhei
Examinei o meu rosto
E não me encontrei
No reflexo do espelho
Encontrei uma menina
Que não mais chorava
Que não mais sorria
Peguei-a no colo
E embalei o seu sonho
Ela mora comigo
E não mais a abandono
Maria Helena Mota Santos
23/11/2010
sábado, 4 de maio de 2019
A greve das letras
As letras fizeram greve
E não formavam palavras
O escritor ficou perplexo
Mas elas nem se importavam
Deitaram no alfabeto
Quase que em câmera lenta
O escritor as cutucava
E elas estavam sonolentas
O escritor ficou olhando
Com uma grande aflição
Como iria entregar no prazo
A sua composição?
Ficou tentando entender
O motivo do levante
Será que estavam deprimidas
E lhes deram algum calmante?
Só a letra S muito sensível
Acordou meio sinuosa
E chamou o escritor
Para um dedinho de prosa
Disse que estavam estressadas
De tanto ir pra lá e pra cá
Só andavam entre os dedos
Nem com os pés podiam andar
Eram acordadas qualquer hora
De dia ou de madrugada
Às vezes estavam exaustas
E ninguém se incomodava
Às vezes caíam em mãos
Que a elas maltratavam
Elas ficavam sem sentido
E até o acento lhes tiravam
Alguns deles nem sabiam
O seu sentido aplicar
Faziam tanta confusão
Que as faziam desmaiar
Elas também tinham direito
De ir e vir quando quisessem
Aí entraram numa oração
E Deus atendeu suas preces
Tinham o sonho de voar
E conhecer o infinito
Queriam na mão do vento
Ser um poema bem bonito
Maria Helena Mota Santos
21/03/2010
sexta-feira, 3 de maio de 2019
Florzinha
Se eu fosse uma florzinha
Bem pequena e delicada
Moraria em um jardim
Não pensaria em mais nada
Iria só enfeitar vidas
E alegraria os ambientes
Seria cúmplice dos amantes
E viveria sorridente
Eu transformaria o orvalho
Em bolinhas de sabão
Para alegrar as criancinhas
Que me carregassem na mão
Pegaria cada pétala
E enfeitaria o caminho
De quem tivesse bem triste
E se sentisse sozinho
Não me prenderia aos jarros
Seria uma flor itinerante
Conheceria as estradas
E chegaria ao horizonte
Maria Helena Mota Santos
08/11/2011
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